05 outubro, 2008

Os 30...

Não há nada como chegar a esta idade e perceber que realmente a vida nos bate à porta todos os dias com surpresas… A chegada dos trinta… Eu achava que já estava suficientemente mudada com as minhas aulas de meditação, o meu yoga, o início (só mesmo o início) de uma caminhada para o vegetarianismo… E até achava que estas mudanças aconteciam porque tinha mudado de país, de emprego ou por qualquer outro motivo… Afinal enganei-me. Desde que fiz trinta não páro de pensar que agora é que é... Acordei esta manhã a pensar na razão de envelhecer. O que mais me assusta no meio disto tudo não são rugas e nem as celulites, que graças a qualquer santo ainda não vieram incomodar, mas sim o não poder correr, esquiar, mergulhar, pular… Há talvez não mais de um ano atrás a ideia de ter vinte para toda a eternidade era simplesmente idílica… Ter conversas banais, preocupações triviais, ter muitos amigos e procurar perdidamente pela cara metade... Com trinta, tenho isso e muito mais. Tenho experiência e informação. Sou mais independente e livre. Os amigos são de verdade e o homem da minha vida passou a ter várias faces! Tornei-me mais verdadeira e autêntica porque já não tenho pachorra para certo tipo de conversa de chacha. Já sei que estar sozinha não é estar só e que preciso desse meu espaço para equilibrar as minhas energias. Até aos vinte achamos que o Mundo vai acabar amanhã porque quem tem 30 já está condenado. Pois bem, desde que subi o Kilimanjaro para celebrar esse momento memorável que não páro um minuto para viver a sério o que tem de ser vivido e com mais intensidade que antes. E será porque agora para mim a condenação é aos 40? Talvez sim, talvez não. Mas até descobri vou curtir à brasa os meus 30!!!

29 setembro, 2008

BRIGHTON!!!!!

Hoje acordei como em tantos outros dias desde há dois meses. Não me sinto infeliz, Não estou triste. Apenas estou. Não sei se isto será bom ou mau. Não sei se significa mudança ou rotina, mas também não me preocupo com isso.
Tenho apenas visto a vida correr-me pelos dedos.
Há alguns anos atrás, a vida era mais prevísivel e aborrecida ao mesmo tempo. Não sei se por não estar no lugar que me pertencia ou se aquela não era a vida destinada para mim. E depois de viver esse passado, que hoje sinto que não me pertence, a aventura e o desconhecido teriam de aparecer mais cedo ou mais tarde.
Visitei países da zona sub-sahariana que nunca havia sequer sonhado. O deserto, as àguas do Okavango, o mato moçambicano vão ficar gravados para sempre na minha memória porque eu sei que hei-de voltar aos mesmos lugares e me vou lembrar de cada grão de areia, de cada folha de chá, de cada pôr -do-sol.
Hoje estou em Brighton, depois de quase quatro anos em África. Voltei ao primeiro mundo para estudar o terceiro. A chegada a Londres foi aterradora. Ou diria melhor, a partida de Portugal. Tudo começou no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto. Já instaladíssima dentro do avião, depois de me debater com o problema recorrente de excesso de bagagem, avisam que afinal já não íamos descolar. Um problema no radar no Aeroporto de Heathrow faz parar a Europa inteira. Nenhum voo para ou de Londres tinha autorização para se mexer. Na melhor das hipósteses iríamos descolar dentro de 4 a 5 horas e na pior, o voo seria cancelado. Foi bem melhor, porque passadas 2 horas estávamos no rumo certo para a capital inglesa. Neste entretanto, um empresário brasileiro com os seus 40 e poucos, mete conversa comigo. Aquela conversa de circunstância entre estranhos. Sente-se ao meu lado durante a refeição "aérea" e depois começa numa tentativa de engate desconcertante, isto porque ele achava que eu tinha 19 anos e era desportista de profissão. Quê??? Vá para o seu lugar e meta-se com gente da sua idade!!!
Começou mal... e iria continuar! Quando me vejo em Londres ia tendo um ataque de pânico! Tudo era demasiado complicado para mim que me tinha tornado mais simples. Sentia-me a Heidi na cidade grande. Era exactamente isso que sentia. Estava num mundo caótico de pessoas em multidões a andarem nas ruas sem cruzarem os olhares, os arranha-céus, o metro, a confusão do trânsito, os barulhos e... a falta de qualidade de vida estampada em cada rosto. Que sensação estranha! Senti medo, pânico, fobia... queria fugir dali.
É claro que ter a minha querida amiga Rita para me receber foi um milagre porque sem ela acredito que teria desistido de tudo ou estaria ainda aninhada num cantinho do aeroporto de Heathrow à espera de ser salva! Obrigada Rita, és fantástica!
Bem, para me acalmar meti-me no Natural History Museum e passei lá a tarde toda. Acho que entre fósseis, pedras e bicharocos me senti mais aconchegada.
Depois voltou tudo outra vez. Fui até Westminster encontrar-me com a Rita para irmos juntas para um pub, onde nos iríamos encontrar com os amigos dela. Parece que a vida aqui é mesmo assim, à sexta (e às vezes noutros dias da semana), as pessoas saem do trabalho directamente para o pub e bebem pints até cair. Eu estava horrorizada! Claro está que tive de comer uma sandoca antes beber a minha primeira pint em terras de Sua Majestade! Foi giro mas não é como as noitadas de Moçambique. As pessoas aqui são estranhas, aparentam uma insegurança nelas mesmas que incomoda. Não há aquela loucura despreocupada. Não há aquele desprendimento do socialmente correcto.
No dia seguinte, 27 de Setembro, um sábado, de manhã, fomos até Covent Garden, Piccadilly Circus, Soho e todos aqueles bairros mais turísticos de Londres. Comemos as famosas Jacked Potatoes e acabamos o dia a carregar 46 quilos entre o metro, o autocarro e o comboio em direcção a Brighton!
Às 19h30, finalmente chegamos à estação de comboios de Brighton. Já se sente o friozinho da costa marítima! Aqui vamos nós de táxi e em 10 minutos estamos à entrada da Residência Universitária de King's Road. Nem consigo acreditar que isto é tão bom. Tinha andado a pesquisar imagens na Internet e estava convencida que quando abrisse a porta do meu quarto teria que saltar directamente para a cama por falta de espaço! Nada disso. O apartamento é espaçoso e o meu quarto tem vista para o mar. Perfeito!
Depois foi a típica voltinha pela cidade e fiquei apaixonada. Super cosy. Senti-me segura. Senti-me feliz! E claro está que acabamos a noite num pub, a rir por tudo e por nada, com as mãos sempre ocupadas pelas nossas pints!
A partir daí, cada dia tem sido sempre uma descoberta. A Universidade é fantástica, o IDS (Institute of Development Studies) mais ainda e tenho conhecido gente de todos os cantos do mundo.
As aulas começam a sério para a próxima semana e a ver vamos se o tempo me chega para continuar a actualizar este blog com as minhas memórias surreais!

25 setembro, 2008

Uma promessa!

Depois de quase um ano de interregno... estou numa cavalgada maluca para actualizar o meu blog com as últimas aventuras dos meus trinta... Depois do Kilimanjaro, seguiram-se muitas outras aventuras em Moçambique, em Madagáscar, uns passeios pelo deserto da Namíbia e umas navegações pelas águas do Okavango... e muito, muito mais... Os mergulhos no Tofo foram sem dúvida o ponto máximo de todas as emoções e pois claro a despedida de Moçambique, com muita baba e ranho à mistura.
Mas é claro que tudo isto não pode ser contado num dia, muito menos numa só crónica por isso estejam atentos que o prometido é devido... Estou a organizar as crónicas com as datas reais por isso façam uma viagem pelo passado!!! Daqui para a frente já poderão saber o que ando a fazer pelas ruas de Brighton!!!

21 julho, 2008

Adeus, Moçambique... até qualquer dia!!! (parte2)

Em África, mesmo nos momentos menos felizes há dança e muitos sorrisos!!!
Claro está que, na minha festa de despedida, não poderiam faltar os amigos, muita música e muita paródia até altas horas da madrugada! E em jeito de homenagem aos bons velhos tempos, aquele sábado foi memorável!
Obrigada a todos os que partilharam aqueles momentos comigo.

Começamos com um jantar num dos meus restaurantes preferidos de Maputo, o Jacarandá, em que eu quase dormi pois na noite anterior tinha estado na festa da lua cheia no Tofo até à hora do regresso a Maputo!

Depois seguiu-se o Gil Vicente e aí sim foi voltar aos velhos tempos dos 9 meses de Contacto@ICEP com noitadas e bons momentos partilhados com a minha querida amiga Rita e os Xitsope. Boa música, boa conversa e toca a mudar para um sítio onde se tem isso e muito mais. Six level! E acho que aqui nem vale a pena gastar palavras porque as imagens dizem tudo. Foi uma festa para nunca mais esquecer!!! Adoro-vos e morro de saudades vossas todos os dias!!!

21 junho, 2008

Adeus, Moçambique... até qualquer dia!!! (parte1)

Tomei a decisão de vir embora num acto de espontaneidade como tantos outros que têm caracterizado os últimos anos da minha vida. Sabia que estava na altura de deixar África. Esta decisão foi tomada no topo do Kilimanjaro e sei que, no momento, um turbilhão de coisas passaram pela minha cabeça: uma mistura de ansiedade, de alegria, de tristeza... Moçambique foi um país que me acolheu tão bem. Fiquei hipnotizada e apaixonada também. Construí uma vida sozinha mas não solitária. Quebrei tabus e fiz crescer novas crenças. Mas também foi onde percebi que não ter com quem partilhar isto tudo pode ser demasiado para nós. Esta terra entanha-se em nós. Esta terra cansa os que não são de cá mas também nunca mais os larga! Sei que vou na altura certa. Se não o fizer agora talvez nunca mais saia daqui e eu gosto de correr mundo. Sei que a raíz fica bem presa às entranhas de África e que delas jamais me vou libertar! Até breve!

25 abril, 2008

Xima, a minha gatinha africana

Por mais que eu tente racionalizar, por mais que tente encontrar paz no meu coração, mais raiva e revolta preenchem o meu espírito. Tenho saudades dela! A Xima era a alma da casa. A alegria que faltava para a preencher por completo. No seu escasso ano de vida conseguiu conquistar-me com as suas travessuras e a sua meiguice. Parecia a minha sombra. Não me largava um segundo, para onde eu ia, ela ia! Agora quando entro em casa, está tudo vazio e triste. Em cada canto vejo o seu corpinho frágil, branco e malhado, com o seu ar matreiro. Cada minuto que passa recordo mais uma brincadeira, uma corrida, um miar.

Hoje de manhã acordei e ela não estava lá, a morder-me os dedos dos pés, a lamber-me o nariz e a suplicar por comida. Hoje de manhã, a Isabel chegou e ninguém tropeçou nos meus pés para chegar primeiro à porta. Hoje de manhã, a Laurentina não teve com quem brincar e procurou por todos os cantos pela sua melhor amiga, sem sucesso. Faltava tão pouco para a levar comigo para Portugal e começar uma nova vida. Faltava tão pouco para poder levar o meu "lemur" de olhos estrábicos e de uma doçura extrema para um país onde os cuidados veterinários são mais avançados. Voltei a ser só eu e a Laurentina a enfrentar o mundo e eu continuo a perguntar-me: Porque razão a vida tem de ser tão cruel? Xima, minha doce gatinha africana, vais ficar para sempre no meu coração!

01 janeiro, 2008

MADAGASCAR

Há muito tempo que sonhava com os lemurs e a sua ilha encantada!
Comecei a ler vários artigos na Internet, a fazer variadas pesquisas e depois de ver o filme de animação Madagascar, decidi que a melhor maneira de conhecer aquele misterioso país seria numa perfeita aventura "backpackers".
Pois bem... não foi bem isso que aconteceu mas tive oportunidade de conhecer alguma coisa que me fascinou e me convenceu a voltar um dia. Dezembro 2007. Tudo a postos. Viagem de avião entre Maputo-Johannesburgo e Antananarivo comprada. Depois era seguir sozinha numa aventura sem hotéis reservados, sem voos internos marcados... nada.
Eis que uns 3 dias antes da partida, a minha melhor amiga decide que afinal se quer juntar à aventura. No princípio achei um bocadinho estranho, até porque foi ela que se juntou a mim na viagem à Tanzânia mas não se atreveu a subir o Kilimanjaro! Tendas não é com ela! Pois bem, depois percebi. A rapariga mexeu-se, e em menos nada já tínhamos o visto nos nossos passaportes, hotéis reservados e voos internos marcados. A viagem foi muito gira, talvez não tanto ao meu género porque gosto mais do efeito adrenalina de estar perdida, estar sem tecto, estar sem soluções imediatas, mas mesmo assim foi uma viagem super divertida e cheia de emoções!
Começamos pela capital e uma chuvada tropical. Sim, porque me esqueci de referir o facto do efeito aventura estar também associado às previsões metereológicas. Fomos na altura dos ciclones! Achei Tana uma cidade caótica. Os taxistas pareciam doutro planeta. Não conheciam as ruas. Não reconheciam os lugares. As pessoas eram de algum modo estranhas e não muito simpáticas... e falavam francês. Meu Deus, como eu odeio esta língua que o mundo inteiro adora!!! Em Tana aproveitamos para fazer umas compras e claro está que só não trouxe o artesanato em peso porque não tinha como o carregar. Mesmo assim ainda conseguir arranjar forma de trazer uma portada de janela em madeira trabalhada, que não consegui cometer o sacrilégio de a deixar lá ao abandono de um outro turista!
Depois seguiu-se a parte mais gira da viagem: Ille Saint Marie! Linda... very wild indeed! A famosa ilha, conhecida pela ilha dos piratas, já não tem muito para mostrar do porto de abrigo desses famosos saqueadores dos mares. Resta apenas o cemitério, que por ironia, ou talvez não, se encontra num dos lugares mais bonitos da ilha.

Depois como em qualquer ilha tropical, a comida é fantástica, as pessoas são simpáticas, o mar é divinal e o repouso é absoluto. Absoluto mesmo, porque fartinha de ler ocupei-me a tirar fotos a mim mesma e algumas à Shelina (ok, só uma!)... Cheguei mesmo a pensar que estava a enlouquecer!!! Por fim, os famosos lemurs!!!! Assim que entramos no parque, entrei em pulgas. Parecia uma criança do jardim escola a fazer a sua primeira visita de estudo. Toquei em todos os lemurs que me era permitido, tirei muitas fotos e superei a tentação de meter um lemurzinho na minha mochila e levá-lo para casa.

Fiquei a saber que Lemur deriva da palvara latina Lemures e significa "espírito da noite" ou "fantasma" e que só habitam na ilha de Madagascar. Eram em tempos 50 as espécies existentes, das quais muitas já se extinguiram e as restantes 15 estão em vias de extinção. A Shel estava mais fascinada com os camaleões. Esta miúda adora répteis... Queria tirar fotografias a toda e qualquer espécie e fugir dos lemurs a sete pés... TRENGA! E depois houve um momento alto nesta visita: as tartarugas. Eu nunca consigo encontrar palavras para descrever estes momentos. Simplesmente adoro-as. Bem... depois seguiu-se a passagem do ano! E esta foi uma noite hilariante. Aqui as meninas, à boa maneira portuguesa, aperaltaram-se todas para a grande noite. Confesso que não foi com qualquer tipo de esperanças de encontrar a cara-metade perdida naquela ilha. Seria um bocadinho dificil já que o nosso hotel, que se encontrava numa zona erma e isolada da civilização, estava povoado de famílias e "velhotes". Bem, quando saímos do quarto e vimos todo aquele povo vestido de calções de banho e havaianas apeteceu-me gritar mas consegui manter o nível e lá fui eu, de sapatinho novo para o salão de dança!!!

Já com uns copitos a mais, ainda nem eram dez horas da noite, conhecemos um casal super simpático, ela americana e ele francês. Acho que foi a nossa salvação naquela noite porque eram os únicos que tinham mais ou menos a nossa idade e que também se sentiam "diferentes" dos restantes hóspedes.

Um dia depois estávamos de partida para Nosy Be, uma ilha mais turística, onde ficamos alojadas num resort de luxo junto à praia e que confesso-vos que, mesmo com uma companhia masculina mais apropriada, não ia gostar nem mais nem menos. Nem a massagem, ao som das ondas do mar foi relaxante, já que fui atacada por mosquitos a toda a hora graças ao óleo adocicado que me espalharam pelo corpo.

Acabei os meus dias a gastar energias nos tapetes rolantes do ginásio do hotel e a ler longas horas junto à praia na companhia da minha grande amiga Shelina. No dia da partida para Moçambique, o voo atrasou-se graças a um ciclone que passava pelo estreito de Moçambique. Chegamos a Johannesburgo impossibilitadas de viajar para casa nesse mesmo dia e passámos a noite num quarto de hotel do pior aeroporto do Mundo, a rir à gargalhada das peripécias que vivemos durante as nossas curtas mas memoráveis férias na terra dos lemurs! Nada como começar o novo ano, sem seguir a tradição, esquecer os 12 desejos, rir à gargalhada, estar com alguém importante, apagar o passado e deixá-lo repousar nos ventos ciclónicos do estreito de Moçambique!