22 fevereiro, 2006

Livingstone!!!

Esta foi a viagem mais alucinante que fiz desde que aqui estou, em Moçambique! Foi SURREAL! Partimos numa sexta-feira, em pleno verão tórrido de África, por volta da hora do almoço, numa avioneta pequenina que nos iria levar, numa viagem de 3 horas, até Lichinga. Três pacóvias de mochila às costas estavam prestes a partir numa aventura de morrer a rir…A viagem de avioneta como devem imaginar foi inesquecível. Tudo abanava e sacudia… e o calor era imenso… Não se podia sequer tocar com o dedito nas janelas da avioneta! Uma paragem em Tete para vermos uma das maiores extensões de embondeiros do país e para sentirmos a “fornalha” que nos esperava para os próximos dias! Chegadas a Lichinga com uma aterragem quase a roçar as asas na pista minúscula, lá fomos nós tentar a sorte numa boleia até ao centro da cidade para daí seguirmos viagem para o Lago Niassa. Num passo de mágica já estávamos dentro de uma pick-up a caminho do local onde se apanhavam os “chapas” para Metangula. Mal chegamos estava um “chapa” prestes a sair… Ganda sorte, bacano!!! Naaada… Fomos dar uma volta ao bilhar grande e estávamos de volta ao mesmíssimo lugar e aí ficamos umas 2 horas à espera que o chapa enche-se de gente para poder seguir caminho!!! E lá seguiu, com inúmeras paragens em todas as paróquias… Uma poeira desgraçada, uns solavancos valentes e um calor insuportável. Tudo isto durante 5 horas!!! E a Shelina sempre a dormir (como é possível…). Mas depois chegamos ao paraíso! Um lago enorme que parecia o oceano. Paisagens virgens, cores envolventes… Lindo, lindo, lindo de morrer! Encontramos o único lodge do local, mesmo em cima da praia. Muito simples mas agradável à primeira vista.

Estávamos tão cansadas da viagem que abancamos logo na esplanada a beber Manica e Sparletta. Sessão de fotos ao pôr-do-sol e logo depois jantarada. Um franguinho à maneira comido à mão e acompanhado com arroz de côco e batata frita. E neste momento as coisas começam a descambar… Bicharada por tudo quanto é lado a fazerem razias aos cabelos e a irem contra os nossos corpinhos delicados. Depois pedimos água mineral: - Não há, sinhora! Tentamos guardanapos e: - Disculpi mas também não há, sinhora! Bem… não vamos perder a compostura. Vamo-nos retirar delicadamente e tomar um banho longo e merecido, e tudo isto se esquece facilmente. Chegamos ao quarto e qual não é o nosso espanto quando vemos uma casa de banho sem água corrente, uma sanita sem autoclismo, um pollivan sem chuveiro… e dezenas de baldes e baldinhos com as águas “límpidas” de um lago contaminado pela billarzia! O melhor remédio foi cair na cama, esquecer e dormir. O sol nasceu bem cedo, como é costume em África, e na alvorada as três pacóvias aventuraram-se num banho no tão falado lago. Assim foi, com cenas merecedoras de Óscares para a Shelina e moi même… a entrar com todos os não-me-toques e a sair a correr para fugir às bactérias!!! Basta… paciência tem limites!!! Vamos regressar hoje mesmo para Lichinga. E assim foi. Preparamos as mochilas e no pico do calor lá fomos nós numa caminhada pela aldeia até ao local da paragem dos chapas. Quando lá chegamos, a minha pele parecia frita, cheia de borbulhas e muito vermelha… Entramos em pânico: é a billarzia (só 2 semanas depois confirmei que a bactéria não queria nada comigo, graças a Deus)!!! Depois de mais 5 horas de viagem de regresso, lá estávamos nós todas sujas até às unhas dos pés, num hotel de 3 estrelas que para nós parecia mais um palácio encantado. Comemos que nem umas desalmadas e no final foram precisas 3 ensaboadelas para tirar todo o pó que repousava no nosso lombo! Dormimos, dormimos, dormimos… e no dia seguinte, para a despedida, andamos no mercado local a açambarcar todas as capulanas da zona. Depois lá fomos nós, a voar, uma vez mais na avioneta fantástica que partiu do aeroporto de Lichinga com 1 hora de AVANÇO e ainda com passageiros de pé a arrumar as mochilas e sem cintos apertados. Só mesmo em Moçambique para se viver e reviver memórias assim!!!

03 fevereiro, 2006

DEDICAÇÃO

Dedicação... palavra certa para escrever um texto àqueles que mais amo!
Estou a ouvir a banda sonora do filme “África Minha” e as lágrimas, como sempre, correm no meu rosto… Parecia presságio… Tinha apenas uns 12 ou 13 anos quando fui ver este filme pela primeira vez com a minha mãe. Só me lembro de chorar muito… O filme da minha vida! Já o vi dezenas de vezes e em todas elas caio num pranto imenso… e ainda hoje não sei explicar porquê! Talvez seja pela mesma razão que não consigo explicar porque gosto de estar em África e porque escolhi ficar por cá. O meu pai costuma dizer que África roubou-lhe a filha… Eu acho precisamente o contrário. África devolveu à filha a alegria de ser ela própria, de descobrir novos mundos, de enfrentar desafios, de sofrer e crescer com esse sofrimento, de voar alto… de viver! Hoje não tenho dúvidas que “escolhi” a família perfeita!!! Tenho uns pais maravilhosos e é graças a eles que estou hoje aqui a viver esta aventura. Foram eles que me ensinaram que há um mundo enorme à nossa volta, que infelizmente nem todos conseguem ver porque estão demasiados ocupados com as “mezinhas” terrenas! A minha querida irmã desde miúda ensinou-me a maior lição de sempre. Bondade. Só lhe tenho a agradecer o coração gigantesco que ela partilha com aqueles que ama! Por último os meus avós… As minhas avozinhas queridas… A avó materna sempre resmungona mas com um sentido de humor invejável. Sempre bonita e arranjada. Disposta a partilhar uma boa receita culinária e uma boa conversa. Política e vida. Deixem falar a voz da experiência! A minha avó paterna ensinou-me o que é o sacrifício e o instinto maternal. E os seus olhos cinza claros transpiravam o esforço de uma vida inteira dedicada ao campo e muita gratidão pela linda família que construiu! O meu avô… Tenho tantas saudades dele! Parte-se-me o coração… Estou longe de todos mas é dele que mais saudades sinto. E quando ouço o som dos violinos e das flautas, sei que é ele que está ao meu lado. Todos os dias posso ir ter com ele, abracá-lo, dar-lhe a mão, ouvi-lo… Acredito na imortalidade da alma… mas mesmo assim morro de saudades!
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