17 julho, 2007

Voltar

Voltar... esta palavra hoje significa bem mais para mim do que alguma vez imaginei... Voltar a casa... Voltar a Portugal... Voltar para a família...
Para um expatriado esta é sem dúvida uma palavra de fé... Significa ter a possibilidade de ver de novo as pessoas que ama, os lugares que marcaram o passado, os amigos que foram ficando incondicionalmente na nossa vida...
Passaram 2 anos para voltar a este lugar que foi mágico, que marcou a minha primeira viagem em Moçambique, quando cheguei em 2005... E continua lindo... Continua perfeito... Inhambane, Tofo... a Barraaaa...
É um regalo de Deus... É um cântigo à beleza... É um retrato do paraíso! Poder pisar aquela areia branca, olhar o pôr do sol e contemplar tudo o que de mais belo há na vida...
É ali, naquelas águas quentes, a mergulhar com o tubarão-baleia que sei que vou voltar... por uns dias, por uns meses, por uns anos... Moçambique ficará sempre no meu coração...

09 julho, 2007

Reserva dos Elefantes

Finalmente resolvi escrever sobre a minha aventura na Reserva dos Elefantes com a minha grande e “velha” amiga Sandra. Era já a segunda vez que ela vinha a Moçambique e foi muito bom reencontrá-la e perceber quantas “coincidências” e propósitos se cruzam na nossa vida. Conheço a Sandra desde o meu primeiro dia de escola, do 1.º ano do ciclo, e desde então somos amigas. Depois de um longo período de desencontros, a viver em países e continentes distintos, acabamos por nos encontrar em África. E foi realmente na sua segunda visita dela a Moçambique que resolvemos partir na aventura e fomos descobrir as maravilhas africanas nas redondezas de Maputo. Partimos num sábado bem cedo a caminho da Ponta d’Ouro, supostamente deveria ter sido mais cedo para conseguirmos apanhar o batelão mas não foi e acabamos por viver outras aventuras. Coisas do acaso. Terra, terra, e mais terra… Um engano muito normal em terras africanas, num dos cruzamentos do trajecto, quase nos levava até à Namaacha. Depois de termos encontrado a “estrada” certa e alguns quilómetros de terra batida já rodado, um bicho muito estranho (muito parecido com um escorpião) resolveu fazer-nos companhia e entrou tresloucado pela janela do carro. Neste momento, pensei dizer adeus à vida. A minha sorte já estava destinada. O pânico instalou-se. E como verdadeiras tuguitas, fizemos um grande drama. Saímos ainda mais tresloucadas do carro, aos gritos, a tentar expulsar o bicho do carro com uma garrafa de água e afinal o bicho estava mais assustado do que nós. A jornada continuou. Depois da terra começaram as crateras no alcatrão e depois areia. Dunas de areia intermináveis. E a minha querida amiga Sandra sempre a rir porque eu lhe fazia lembrar a Maggie Simpson, a chuchar no meu aparelho dos dentes. Eu já tinha feito aquele trajecto por várias vezes mas naquele dia a estrada parecia mágica… Todos os pormenores tinham mudado… E nunca mais acabavam… A meio do caminho resolvemos atalhar pela Reserva dos Elefantes, numa tentativa deseperada de aproveitar ao máximo um fim-de-semana curto e de o tornar mais excitante e autêntico. Maldita poesia. Saiu-nos tudo furado! Bem, tudo não porque na verdade, a paisagem da Reserva vale mesmo a pena. Fiquei apaixonada e questiono mesmo a hipótese de lá voltar e ficar lá a acampar com os animais que não chegamos a ver... nem um!! Pois, estivemos dentro da Reserva umas 6 a 7 horas e o único ser vivo, além de nós, foi um “bush buck” que se atravessou no nosso caminho e que ainda hoje quase que diria que n ão passou de uma miragem! A minha co-piloto tentou seguir religiosamente o mapa que nos foi entregue à entrada do parque mas com aquele rabiscado tão primário nas mãos de uma mulher deu em asneira. Perdemo-nos! Conseguimos encontrar naquele emaranhado de caminhos em areia, praias paradisíacas e muito verde, e pelo meio meia dúzia de habitações de comunidades locais que nem português sabem falar, a 60 km de Maputo! Por meio de gestos e alguns grunhinhos, estes mesmos locais conseguiram ajudar-nos a encontrar de novo o caminho… que nos levaria à desgraça. Depois de mais umas voltas, chegamos a um lago lindíssimo e ao mesmo tempo assustador. A estrada dirigia-se precisamente para dentro do lago, onde supusemos de imediato que haveriam corcodilos e outras espécies esfomeadas… Num passo de mágica, em 2 segundos, já estávamos nas dunas, entre a savana e o dito lago. E agora???? No panic… em cima do capot do carro consegui apanhar sinal no telemóvel. Liguei para meia dúzia de amigos que deviam estar muito ocupados para atender… talvez ocupados com uma ressaca descomunal já que se tratava de um sábado de manhã. Por fim, ligação e contactos com o próprio Director da Reserva. Estaria em Maputo mas ia deslocar-se à Reserva para resgatar duas donzelas, mas com indicações precisas: não se mexam, não saiam do carro e se virem um elefante façam o maior barulho possível… Estávamos na pior zona para atolar, entre o mato e o local preferido dos elefantes para beber… Pois bem, estivemos neste preciso lugar umas 4 a 5 horas e nem sinal de elefantes, gafanhotos, moscas ou mosquitos… nem um animal… É claro que dentro do carro, quietas, não conseguíamos estar. Resolvemos arranjar uns trocos para desenterrar o carro mas nada; resolvemos afastar a areia dos pneus mas nada também… até que, quando estávamos para desistir, vemos um carro a estacionar a uns 2km de distância. Acenamos, gritamos, buzinamos mas nada… resolvemos ir ter com os nossos salvadores… No momento em que chegamos senti logo um arrepio na espinha… Primeiro grande arrependimento da minha vida. Neste carro estavam 7 a 8 homens, já bastante bebidos que se recusaram ajudar-nos porque nós recusamos dar refresco. Voltamos para trás com o rabinho entre as pernas, a pensar na grande burrice de nos expormos assim, num lugar completamente deserto, onde tudo e nada pode acontecer, onde o bem e o mal não se distinguem… Graças a Deus tudo correu bem… os homens estavam bebidos mas vieram socorrer-nos… É claro que a princípio, eu e a Sandra nem saímos no carro. Eu tremia dos pés à cabeça… e olhava para a Sandra com aquele ar de pânico que devia estar também espelhado no meu rosto, a tentar encontrar sinal para fazer mais uma chamada para que eles soubessem que não estávamos “sozinhas”. Tivemos de sair do carro porque eramos muito “pesadas” e uns minutos depois o carro estava a salvo… e nós também… Só depois fiquei a saber que estive o tempo todo com graxa do carro na bigodaça e a minha querida amiga não me avisou porque pensou que esta minha pintura não tinha nada de sexy e isso levaria os homens a nem sequer pensar numa possível ideia menos solidária… Fiquei tão agradecida por terem ajudado e não terem “atrapalhado” que até “refresco” lhes dei… e seguimos viagem com um sorriso de orelha-a-orelha… Ainda faltava 1 hora de viagem… Às 19h de sábado chegamos finalmente ao destino. Uma viagem que normalmente dura no máximo umas 4 horas levou-nos 9 horas. Cansadas mas felizes. O dia de aventura fechou com uma boa e merecida jantarada, um cocktail oferecido por um admirador secreto e uma boa noite de sono…