04 novembro, 2006

Viver no estrangeiro...

Além da vontade, são precisas certezas... Sair do país e partir numa aventura pelo Mundo fora, não é fácil… Mudam-se as rotinas, os destinos, as vontades… Muda-se de vida por completo porque tudo o que ficou para trás não volta mais! Confesso que quando tive de tomar esta decisão não foi nada fácil. Toda a minha vida estava programada e se alinhava para um determinado destino. Mas parti. De início a adaptação é difícil, depois vem o deslumbramento. Explorar o país, conhecer gentes e lugares, ver coisas inimagináveis… Depois vem a rotina, acelerada e intensa mas rotineira… Uma rotina em que muita coisa falta, em que a aprendizagem é solitária e a aceitação do teu eu é inevitável... Às vezes pergunto-me como pôde a minha vida girar 180º e continuar inabalável e confiante quanto ao futuro. Muito de mim mudou e o mais importante foi realmente poder estar comigo, poder conhecer-me melhor, e aceitar-me. É um exercício constante, longe de tudo e de todos, é aquilo a que chamo solidão saudável… E depois temos a outra face da moeda. A qualidade de vida, o convívio, as amizades, quase como que um reflexo da necessidade de não sentirmos sós, a outra solidão, a má. Sentimos também uma necessidade enorme de partilhar e invariavelmente uma vontade imensa de vencer, e de provarmos a nós próprios que somos capazes. E é isto que nos faz crescer. Hoje, em Moçambique, sinto-me feliz. Neste país tão distante. É natural que seja difícil estar longe. Saber que é preciso percorrer um longo caminho de angústia para ter o abraço dos que amamos. Acabamos por sentir que perdemos o resto do Mundo... E contraditoriamente os nossos horizontes alargam-se e a vontade de conhecer o mundo vai crescendo. É também aqui, distante, que percebo que a minha vida, no meu país já não faz mais sentido! A pergunta que me faço muitas vezes é o quanto tudo isto poderá compensar, já que acabamos por nos desleixar no aspecto pessoal por mais conhecimento, por mais viagens e empregos fantásticos. Onde fica a família no meio disto tudo, um interesse tão humano e comum a todos nós? O bichinho da internacionalização nasce no dia da partida e nunca mais nos larga. Hoje sei que não pertenço a lugar algum. Sou uma cidadã do Mundo, cheia de vontade de saber mais sobre os povos e sobre as culturas. E se não encontro neste percurso quem me acompanhe nestes voos então, até esta vida me fazer feliz, vou-me desleixando no resto… Vou medindo os prós e contras… E vou fazendo a minha lista à medida que o tempo vai passando. Enquanto a balança pesar para os variados caminhos do Mundo, seguirei fielmente o meu destino…
Vivemos muitas vidas numa só... e isso para mim é felicidade!