23 fevereiro, 2006
22 fevereiro, 2006
Livingstone!!!
Esta foi a viagem mais alucinante que fiz desde que aqui estou, em Moçambique! Foi SURREAL! Partimos numa sexta-feira, em pleno verão tórrido de África, por volta da hora do almoço, numa avioneta pequenina que nos iria levar, numa viagem de 3 horas, até Lichinga. Três pacóvias de mochila às costas estavam prestes a partir numa aventura de morrer a rir…A viagem de avioneta como devem imaginar foi inesquecível. Tudo abanava e sacudia… e o calor era imenso… Não se podia sequer tocar com o dedito nas janelas da avioneta! Uma paragem em Tete para vermos uma das maiores extensões de embondeiros do país e para sentirmos a “fornalha” que nos esperava para os próximos dias! Chegadas a Lichinga com uma aterragem quase a roçar as asas na pista minúscula, lá fomos nós tentar a sorte numa boleia até ao centro da cidade para daí seguirmos viagem para o Lago Niassa. Num passo de mágica já estávamos dentro de uma pick-up a caminho do local onde se apanhavam os “chapas” para Metangula. Mal chegamos estava um “chapa” prestes a sair… Ganda sorte, bacano!!! Naaada… Fomos dar uma volta ao bilhar grande e estávamos de volta ao mesmíssimo lugar e aí ficamos umas 2 horas à espera que o chapa enche-se de gente para poder seguir caminho!!! E lá seguiu, com inúmeras paragens em todas as paróquias… Uma poeira desgraçada, uns solavancos valentes e um calor insuportável. Tudo isto durante 5 horas!!! E a Shelina sempre a dormir (como é possível…). Mas depois chegamos ao paraíso! Um lago enorme que parecia o oceano. Paisagens virgens, cores envolventes… Lindo, lindo, lindo de morrer! Encontramos o único lodge do local, mesmo em cima da praia. Muito simples mas agradável à primeira vista.
Estávamos tão cansadas da viagem que abancamos logo na esplanada a beber Manica e Sparletta. Sessão de fotos ao pôr-do-sol e logo depois jantarada. Um franguinho à maneira comido à mão e acompanhado com arroz de côco e batata frita. E neste momento as coisas começam a descambar… Bicharada por tudo quanto é lado a fazerem razias aos cabelos e a irem contra os nossos corpinhos delicados. Depois pedimos água mineral: - Não há, sinhora! Tentamos guardanapos e: - Disculpi mas também não há, sinhora! Bem… não vamos perder a compostura. Vamo-nos retirar delicadamente e tomar um banho longo e merecido, e tudo isto se esquece facilmente. Chegamos ao quarto e qual não é o nosso espanto quando vemos uma casa de banho sem água corrente, uma sanita sem autoclismo, um pollivan sem chuveiro… e dezenas de baldes e baldinhos com as águas “límpidas” de um lago contaminado pela billarzia! O melhor remédio foi cair na cama, esquecer e dormir. O sol nasceu bem cedo, como é costume em África, e na alvorada as três pacóvias aventuraram-se num banho no tão falado lago. Assim foi, com cenas merecedoras de Óscares para a Shelina e moi même… a entrar com todos os não-me-toques e a sair a correr para fugir às bactérias!!! Basta… paciência tem limites!!! Vamos regressar hoje mesmo para Lichinga. E assim foi. Preparamos as mochilas e no pico do calor lá fomos nós numa caminhada pela aldeia até ao local da paragem dos chapas. Quando lá chegamos, a minha pele parecia frita, cheia de borbulhas e muito vermelha… Entramos em pânico: é a billarzia (só 2 semanas depois confirmei que a bactéria não queria nada comigo, graças a Deus)!!! Depois de mais 5 horas de viagem de regresso, lá estávamos nós todas sujas até às unhas dos pés, num hotel de 3 estrelas que para nós parecia mais um palácio encantado. Comemos que nem umas desalmadas e no final foram precisas 3 ensaboadelas para tirar todo o pó que repousava no nosso lombo! Dormimos, dormimos, dormimos… e no dia seguinte, para a despedida, andamos no mercado local a açambarcar todas as capulanas da zona. Depois lá fomos nós, a voar, uma vez mais na avioneta fantástica que partiu do aeroporto de Lichinga com 1 hora de AVANÇO e ainda com passageiros de pé a arrumar as mochilas e sem cintos apertados. Só mesmo em Moçambique para se viver e reviver memórias assim!!!